quarta-feira, 10 de abril de 2013

Em nome do amor: a naturalização da violência masculina.


http://diversao.terra.com.br/tv/abertura-de-39guerra-dos-sexos39-ganha-cena-antologica-da-1-versao,2bf8c4760c56a310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.htmlFaz tempo que desisti das novelas porque não sentia mais interesse pelas mesmas histórias. Enchi de Manoel Carlos com suas helenas (Helena com “h”, já que não se trata de um nome próprio e sim de tipos diversos, por assim dizer, de personalidades atribuídas às suas personagens) e as tramas eram tão repetitivas, os mesmos atores formando os mesmos casais românticos, teve uma inclusive que tive dúvidas se era uma nova novela ou se estava vendo a reprise da última. Mas, não é esse meu foco, para mim tanto faz se há quem goste e defende a mesmice, o que me atormenta a escrever hoje é sobre a cena que assisti ontem.

            A novela se chama “Guerra dos Sexos”, segundo soube é um remake, o próprio nome já é uma ofensa a ouvidos perspicazes. Desde quando devemos estar em guerra contra o sexo oposto? Isso dá a ideia de que não somos iguais em direitos e que mulheres e homens estarão eternamente lutando para que um se submeta ao outro. Mas ainda não é essa a questão central.
O que me impulsiona é a cena em que o personagem Nando (Reynaldo Gianecchini), que me pareceu ser o protagonista (me perdoem se não o é, pois como disse não assisto a novela) que normalmente é o “mocinho”, um homem romântico, “o cara” legal, o genro que toda mãe gostaria de ter, e como tal tem suas atitudes tidas como boas. Pois bem, traçado o perfil do personagem voltemos à cena de ontem em que este personagem batia furiosamente à porta da casa da sua noiva e gritava ferozmente para que ela a abrisse. Ele estava irritado, falava de forma grosseira e fazia o maior “barraco”. Os vizinhos começaram a reclamar do barulho e a dizer que chamariam a polícia e ele respondeu perguntando se eles nunca haviam brigado com a noiva e ninguém mais se intrometeu. Em seguida continuou a gritar para que a Juliana abrisse a porta e sem resposta dela acalmou a voz e pediu com mais paciência para conversar com ela. Como ela não o respondeu ele arrombou a porta e entrou dizendo mais ou menos - “Olha aí! ta o vendo o que você me fez fazer? Agora vai custar um dinheirão consertar isso”. Calma! Não se desesperem como eu, Juliana não estava em casa e ele apenas encontrou um bilhete dela rompendo a relação.
Garota esperta, né? Infelizmente, não! Pois, por mais que tudo isso fosse suficiente para que ela não quisesse mais um relacionamento com ele, a naturalização do comportamento masculino violento será justificado pelo “amor” à sua noiva. Pela paixão que nutre por ela e certamente no final dessa trama eles viverão felizes para sempre.
Não sei se é necessário questionar as falas e atitudes do personagem, para mim está tão claro, que nem sinto vontade de comentar. (Né, Laura Charlene? rsrs). Mas vamos lá! Ao refletir sobre a cena que assisti e a realidade que presencio, me entristece saber que por ser assim mesmo não posso sequer me indignar contra a cena já que novelas nada mais são do que o reflexo do nosso cotidiano e da nossa marca cultural. No entanto, me questiono sobre a apresentação naturalizada de uma prática que precisa ser criticada. Pois não há nada mais certo que o poder de atingir as massas que a rede Globo detém. Vejamos se me faço entender, é que se fosse algo referente à liberdade de expressão de grupos tidos como minoria a “opinião pública” conservadora exigiria que algum personagem morresse para pagar os seus pecados, mas Nando apesar de ser pobre é um homem, portanto pode arrombar a porta da casa da noiva e ficar impune. E pior, essa cena sugere que os homens que agem assim não são vilões, na verdade eles são homens bons movidos pelo “amor” que sentem pelas “suas” mulheres e vão lutar pelo seu “sentimento”, pois estão sofrendo por amor. Agora preciso explicar tantas aspas já que a ironia é uma marca difícil de imprimir. O que entendo nessa relação é que esse “amor” dele é por si mesmo e que pensa nela como “sua” propriedade e seu “sentimento” é de orgulho ferido por ela não o querer mais. E que Nando deveria ser preso, repudiado pelo seu núcleo de personagens da história, responder criminalmente pela violência que praticou e sua noiva não deveria perdoá-lo, como forma de difundir que as mulheres possuem direitos e que atitudes violentas não podem ser vistas como expressão do amor masculino, mas como agressão ao Direito da mulher e que a atitude do personagem feriu o Art. 7º da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, conhecida com Lei Maria da Penha, que diz que a violência patrimonial é uma violência doméstica e familiar contra a mulher.
Que os autores continuem a difundir essas ideias é até cabível, falta de bom senso e de compromisso com mudança social a gente vê por aqui. Mas apesar de ser ficção, volto a dizer que novelas são reflexos do nosso cotidiano e como tal reproduzem valores e ajudam a mantê-los e ainda que não se pretenda quebrar o clima da ilusão que também é sua marca, já que o entretenimento é o que se busca por parte de quem as assiste é preciso questionar essas práticas.
E para isso concluo propondo que pensemos em quantos “nandos” existem por aí e que eles são vítimas de nós mesmos. Vejam como Nando pergunta “viu o que você me fez fazer?” Ele entende que foi levado a isso por Juliana que não soube agir de forma que evitasse que ele se expressasse daquela forma. Mas, não acreditem que penso que a culpa é dela, pois quando penso nos “nandos vítimas de nós mesmos” me refiro à nossa sociedade que impõe que eles hajam desde meninos como “homens” e na nossa sociedade um homem não é educado para demonstrar e agir com sensibilidade, “isso é coisa de mulher”. Educam-se os homens para não externar como se sentem em relação às suas emoções, são proibidos de chorar, não podem demonstrar fragilidade e quando adultos a falta de capacidade de verbalizar o que sentem os levam a se expressar com violência. Meu pedido é de que pensemos em “nandos vítimas de nós mesmos” como forma de parar de impor comportamentos machistas às nossas crianças para depois puni-las por agirem como foram incentivadas desde pequenas. Meu pedido é de que parem de querer criar jogos de meninas contra meninos, de proibir que homens chorem e de fazer das nossas vidas um campo de guerra entre os sexos. 

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Gênero é mais que uma questão biológica.




Apesar de diferenças biológicas definirem o sexo do indivíduo a partir da distinção de seus aparelhos sexuais é a construção sociocultural, e não os fundamentos biológicos, que irá impor diferenciações entre homens e mulheres que mais pesarão na formação da sua identidade de gênero. E a socialização será a reforçadora dessa diferenciação sociocultural impondo costumes e exigindo uma resposta comportamental desse indivíduo, de acordo com o modelo cultural estabelecido de como ser homem e ser mulher na sua sociedade. No entanto, embora ele passe pelo processo de socialização que corresponde culturalmente ao seu sexo biológico, pode não se identificar e não reproduzir o comportamento que se espera dele em relação aos moldes sociais que foram historicamente estabelecidos.
Nesse embate de determinação dos papéis sociais de acordo com o sexo, na tentativa de criar barreiras que impeçam que o indivíduo se afaste do ideal que foi estabelecido como norma para seu comportamento, surgem as ações estigmatizadoras dos “desvios”, por exemplo, de mulheres que não se identificam com a maternidade e optam por não ter filhos e de homens que realizam os trabalhos domésticos enquanto suas mulheres exercem atividade remunerada fora de casa. Pois a normalização social entende que eles não cumprem ou inverteram seus papéis e isso vai de encontro às concepções que historicamente definiram a divisão social do trabalho a partir do critério do sexo em acordo com os aspectos culturais e que delimitaram as atividades próprias para homens e mulheres. Um bom exemplo é pensar que inicialmente a docência era uma atividade exclusivamente masculina e que ao longo do tempo foi passando a ser uma atividade dominada por mulheres e hoje o senso comum entende que um homem não teria "jeito" pra lidar com crianças e portanto não vemos homens atuando nas séries iniciais ou na educação infantil. Essas concepções foram criadas a partir do determinismo biológico que reservou à mulher, devido à sua capacidade de gerar filhos, as funções de manter os cuidados com a família e as tarefas domésticas considerando que seria sua aptidão natural lidar com crianças por ser a geradora.
Remetendo à socialização que favorece os estigmas relacionados à distinção dos papéis sexuais basta pensar em como somos levados desde muito pequenos a reproduzir o modelo social que reforça o comportamento de acordo com o sexo quando somos presenteados com coisas de meninos ou coisas de meninas e que farão parte das nossas teatralizações da vida adulta. E nesse faz de conta meninas vão se habituando a usar panelinhas, fogões, bonequinhas e vai internalizando uma competência para maternidade, para qual se entende que possui aptidão inata por ser mulher e não porque foi socialmente levada a desenvolver. Já os meninos começam pouco a pouco a se envolverem com "o mundo dos homens", do poder e da força, e para aprender a lidar com ele recebem carrinhos, jogos e materiais esportivos e são desencorajados a brincar com bonecas ou a desenvolver atividades ligadas à arte e a subjetividade e são muito reprimidos quando demonstram alguma fragilidade.
Já no campo da sexualidade o comportamento machista é reforçado desde a infância de tal forma que as mães, portanto mulheres, conduzem a educação dos meninos para a liberdade sexual que desaprovam nos seus maridos. E para elas é “natural” que o menino seja conduzido a ter uma namoradinha em cada lugar social que frequenta, como a escolinha, a clínica pediátrica, o clube, o bairro e etc., devido à concepção de que ele deve se “comportar como homem” desde cedo. Já a menina é tolhida desse comportamento e orientada para a iniciação sexual tardia e o relacionamento monogâmico. Essa postura familiar é uma contribuição direta à privação da liberdade sexual feminina, pois além de internalizar nela que não possui o direito de buscar relações sexuais por prazer e que deve se reservar aos papéis de esposa e mãe, também influencia a mulher a querer manter a qualquer custo um relacionamento ainda que ele não seja satisfatório ou que represente risco à sua integridade física e emocional. E assim, mulheres acabam sendo as principais vítimas de crimes passionais, devido também a condições sociais e étnicas que desfavorecem a sua possibilidade de independência financeira, pois grande parte não possui renda ou escolaridade que lhe garanta a sobrevivência já que são educadas, ainda hoje, para esperar no casamento ser provida pelo marido e por isso, mesmo quando denunciam a violência doméstica acabam voltando para casa até que são mortas. Mas esses crimes, apesar de repercutirem caem no esquecimento, à exceção dos mais famosos pela crueldade ou pela publicidade da vítima ou do agressor, e até penso que criam a sensação de naturalização quando deveriam na verdade chamar a atenção para a condição de desigualdade entre os sexos e nas relações de poder historicamente construídas que remetem a mulher à condição de inferioridade social ao homem.
Organismos sociais como algumas religiões e a família difundem ideias que submetem os indivíduos que “desviam” da norma a grande sofrimento emocional, psíquico e físico, por não tolerarem suas diferenças. E além de imperar como controle social o preconceito e a violência tanto simbólica quanto física culminam nas reações machistas e homofóbicas contra mulheres, homossexuais e outros grupos apontados como desviantes. Assim, os papéis historicamente definidos distintamente para homens e mulheres foram demarcados a partir da cultura e da divisão social/sexual do trabalho e nem sempre condizem com a identidade de gênero do indivíduo, que apesar de possuir o sexo biológico definido culturalmente para agir, pensar e sentir de determinado modo sente identificação com o comportamento do sexo oposto ao seu. Portanto, ser homem e ser mulher envolve dimensões além do determinismo biológico, pois são construções que serão influenciadas pela identificação do indivíduo com a cultura e a socialização.


Referências


COSTA, A. A. A. A construção do pensamento feminista sobre o "Não-poder" das mulheres. In: As donas no poder. Mulher e política na Bahia. 1. ed. Salvador: Assembléia Legislativa da Bahia/NEIM-UFBa, 1998.

Gênero: uma categoria útil de análise histórica - Joan Scott.

Não se nasce homem - Mariza Corrêa.

Identidade de Gênero e Sexualidade - Míriam Pillar Grossi.

sábado, 3 de novembro de 2012

Trilogia: Cinquenta Tons de Cinza

Quase todo mundo que ouve falar fica curioso para ler, os que leram se dividem naturalmente entre amei e odiei. Os primeiros tecem comentários calorosos e os que odeiam rebaixam-o a pornô para mamães ou água com açúcar. Cá pra nós não acho que vale toda essa profusão, mas de certa forma gosto de ser uma entre os milhões de pessoas mundo a fora que leram o livro. Faz eu me sentir um pouco mais cosmopolita rsrs. Mas vamos ao que interessa...
Outro dia, antes de ler as primeiras críticas (ver outra) sobre "Cinquenta Tons de Cinza", comentava com uma amiga sobre contos eróticos e de como sentia falta de uma literatura de bom gosto nesse gênero, pois normalmente o que encontramos na internet tem teor machista e pejorativo, quando não é tipicamente sobre incesto e pedofilia que para mim são tabus que incorrem no abuso devido à vulnerabilidade emocional ou da imaturidade da parte de quem se submete. Daí lembrei de Anaïs Nin que ainda não conheço e de João Ubaldo Ribeiro, "A casa dos budas ditosos", que escreveu bem no campo erótico, no entanto, me fez sentir falta de emoção ou afetividade em sua literatura. Bem, pouco tempo depois surge o tão falado livro e arrisquei por mera curiosidade, nem sabia direito que havia BDSM e mal havia chegado nos capítulos dessa revelação e alguém comentou comigo sobre esse ton mais acinzentado.
Logo de início foi perceptível que a autora não tinha pretensão alguma de entrar para o seleto hall de grandes escritores, não era sequer necessário revelar que o livro é uma fanfiction, como estão chamando, da série Crepúsculo, pois ela leva a narrativa de forma bem despretenciosa, não posso assegurar que foi intencional, mas não será encontrado as grandes inquietudes da Françoise de "A convidada" de Simone de Beauvoir. Pois não há profundidade alguma em seus personagens. Anastasia Steele é uma jovem, insegura e inexperiente e Christian Grey um jovem multimilionário, lindo e enigmático. Típicos clichês dos romances de banca que nossas tias liam décadas atrás.
A relação deles começa com uma atração mútua e aos poucos vai evoluindo até que a verdade sobre os desejos acinzentados de Grey são revelados, Ana não assina o contrato de submissão e não se sente capaz de exercer o papel de submissa depois de experimentar um nível iniciante na prática BDSM. Nesse ponto acho que a autora mergulha totalmente no romance comum. Até então a trama tinha algo de envolvente. As sessões de dominação eram instigantes, um plus ao casal bobinho, mas que é deixado de lado pelo romantismo.
No segundo livro "Cinquenta tons mais escuros", após o rompimento de Ana, Grey se rende e desiste da ideia de dominá-la  e o que se segue é um mar de declarações de amor, apresentação aos pais e à sociedade e blá, blá, blá. Depois surgem duas ex dele, sua iniciadora que no momento é sua amiga e sócia e uma submissa que pirou por causa de uma trama mal elaborada e que compra uma arma e passa a ser uma possível ameaça ao casal. Nisso já mergulhamos totalmente no mundo dos clichês românticos e após a subpirada ser internada, Ana faz juras de não abandonar Grey mesmo descobrindo o segredo que o tornou um dominador.
A autora consegue não usar das vulgaridades, dispensáveis, quando narra as cenas eróticas. Em contra partida o excesso de romantismo faz o livro ficar maçante. Também peço e imploro que alguém escreva algo realmente relevante para a mulher contemporânea, algo que não a faça repudiar as atitudes da personagem central, pois Grey vive dizendo a Ana que ela lhe pertence e ela admite e ainda reforça essa ideia. Talvez eu esteja indignada devido aos tantos casos de mulheres vítimas de violência por parte de seus cônjuges e essa ideia de pertencer me faz pensar que quem possui pode dispor como bem desejar de sua propriedade. E isso é mais intolerável para mim do que as sessões de BDSM, acho que porquê na verdade como tem sido analisado pela crítica o nível que é apresentado no livro é para iniciantes o que o torna aceitável para nós leigos. São palmadas, chicotadas, vendação, imobilização e etc., nada que simples mortais não já tenham feito. Mas a submissão psicológica, a simples declaração de pertencer a outra pessoa soa muito mais perigoso para mim.
Bom, nisso meu desejo de ler uma literatura adulta, feminina e de bom gosto fica adiado, quem sabe só em "Cinquenta tons de liberdade"? Mas tenho minhas dúvidas.

Resenha do filme "E Seu Nome é Jonas".

*Patrícia Flores Freitas.
A obra fílmica “E seu nome é Jonas” foi produzida nos EUA no ano de 1979, relata a história de um menino erroneamente diagnosticado com retardo mental, quando na verdade era uma criança surda que possuía sua capacidade cognitiva preservada, mas que deveria ser estimulada e para tal precisava adquirir uma linguagem.
Quando descobre o verdadeiro diagnóstico de Jonas, a família o retira da instituição para deficientes mentais em que foi internado e o leva para casa, mas não sabe como lidar com o garoto. Na cena em que Jonas é reapresentado ao resto da família o áudio é suprimido, dando ao público a percepção de forma interativa de como um surdo se sente entre pessoas ouvintes, pois mesmo os surdos que fazem leitura labial ou que usam aparelho não compreenderiam plenamente a fala de várias pessoas ao mesmo tempo e se sentiriam confusos.
Ao buscar uma escola para surdos a mãe de Jonas é orientada a não permitir que ele use gestos para se comunicar, mesmo em casa com a família, com a justificativa de que ele não teria disposição para aprender a falar e a fazer a leitura orofacial se pudesse se comunicar com as mãos. Essa é uma ilustração do pensamento oralista que não admite o uso da língua de sinais por entender que o surdo deve se inserir no mundo ouvinte através da leitura orofacial, terapia de fala, uso de aparelho auditivo e/ ou implante coclear, o que não atende a pessoas com surdez profunda. É pouco eficaz para casos de diagnóstico tardio, além de não estar acessível a todos por serem tratamentos caros e também se configura uma negação de acesso a língua de aptidão natural do surdo.
O preconceito e a falta de orientação sobre a capacidade de interação do menino dificulta a relação da família com a comunidade ouvinte, levando-a a exclusão social o que afeta principalmente ao pai que também não consegue se comunicar com o filho, pois como ele foi tardiamente diagnosticado ainda não adquiriu nenhum meio de se expressar, como também não consegue entender o que lhe está sendo dito e não compreende as regas de convivência de sua família. Também por ter recebido um tratamento assistencialista durante o período em que permaneceu internado, o menino tem dificuldade em lidar com a disciplina imposta pelo pai.
Em seguida, com a morte de seu avô, Jonas demonstra não compreender sua ausência e ao tentar encontrá-lo acaba se perdendo. Nesse momento fica claro que sua relação familiar mais significativa era com o avô que se foi e ele passa a se sentir solitário, pois não está inserido nem numa comunidade ouvinte nem numa comunidade surda. 
Buscando desesperadamente uma forma que lhe permita interagir com seu filho a mãe de Jonas, através da mãe de outra criança surda, descobre que a utilização de sinais é defendida por outras correntes de ensino para surdos e visita um espaço em que surdos interagem através da língua de sinais. De forma espontânea um surdo mostra para ela alguns sinais e ela consegue compreender o que está sendo sinalizado. Esse primeiro contato acontece num clube para surdos, ambiente informal, em que a interação flui naturalmente, sem as pressões e a artificialidade que acontece na terapia da fala e na escola oralista. Entendendo que com a língua de sinais conseguirá se comunicar com o filho, a mãe de Jonas passa a adotar esse método educativo se opondo a orientação da escola.
A cena em que Jonas compreende a relação dos sinais em libras com os seus significados é comovente, pois nesse momento sabemos que ele poderá expressar com autonomia suas vontades, aspirações, afetividade e compreensão sobre conceitos abstratos, como a morte do seu avô. Essa última cena sintetiza a premissa mais fundamental que deve nortear o pensamento em torno da questão da aquisição de linguagem por surdos, “o direto de se expressar na língua materna” como preceitua a Declaração dos Diretos Humanos Linguísticos, mas não só como forma de garantia de direitos, mas por reconhecimento de que a língua de sinais carrega em si o status de língua por possuir sua própria estrutura, por possibilitar aos seus usuários o desenvolvimento de suas capacidades cognitivas, exercer sua identidade cultural e ter acesso pleno ao convívio social, sem imposição da língua oral, para qual não possuem aptidão natural, para serem incluídos na comunidade ouvinte e, portanto a língua de sinais não pode ser entendida como mera gesticulação ou tradução da língua oral.



REFERÊNCIA

E Seu Nome é Jonas. Direção: Rich EUA, 1979.ard Michaels. EUA,1979. 1 DVD (100 min).

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A inclusão capitalista.

Lógico que sendo aluna de um curso de Humanas da Universidade Federal da Bahia sempre defendi  o acesso das minorias a bens sociais  e materiais como educação, saúde, segurança, lazer, esporte,  moradia e etc. E estou sempre em campanha política por esses direitos e contra o sistema capitalista, que de tão medíocre engana até a quem o despreza, como eu que defendia a inclusão sob a perspectiva de que através dela as pessoas poderiam alcançar uma boa qualidade de vida. Mas que na verdade é um discurso que serve ao próprio sistema que por força de sua natureza ao incluir está também excluindo.
Não parece lógico que quem inclui também exclui, mas é exatamente o que esse modelo financeiro faz.

Em construção.

- conceito de inclusão e exclusão, questões ligadas ao capital e o neoliberalismo,  sistema econômico...

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Internet e Educação

O grupo iniciou o debate nos questionando sobre "O que a Disciplina de Tecnologias Contemporâneas proporcionou a cada uma de nós?
Dentre as várias opiniões surgiram principalmente a desmistificação sobre os softwares livres que é marginalizado pelas marcas para promover seus produtos, sobre a visão dos professores quanto ao uso dos infocentros nas escolas para ensinar aos alunos a utilizar o computador quando na verdade ele deve ser o espaço de trabalhar os conteúdos que foram vistos na sala de aula. E sobre a orientação dos programas e projetos de inclusão digital no Brasil, que também se limitam a doação de hardware e uso de software que em alguns casos sequer são livres. Quando na realidade o uso do computador na escola deve oportunizar ao aluno acesso e construção do conhecimento e a imersão na cibercultura.

Impressos e Educação


O seminário foi iniciado com um questionamento do grupo sobre qual a nossa opinião sobre os impressos na sala de aula. Considerei uma excelente abordagem pois levantou argumentos fundamentais para o desenvolvimento do debate:
  • Sobre o uso dos impressos na educação a partir de uma visão crítica sobre o conteúdo que é veiculado pelos livros didáticos que, não raro, trazem informações equivocadas ou que atendem à manutenção de uma visão de mundo elitista que valoriza apenas a história oficial.

Em construção.

domingo, 30 de setembro de 2012

TV e Vídeo e Educação

TV e Vídeo na Educação foi um dos seminários em que as discussões foram mais dinâmicas e espontâneas e já vinham acontecendo no ambiente do moodle.

Um dos pontos mais interessantes foi a discussão sobre as práticas pedagógicas que utilizam a TV e o Vídeo como um recurso sem intencionalidade, sem contextualizar com os alunos uma visão crítica do seu conteúdo ou na ausência do professor para ter como ocupá-los. Também discutimos sobre a repercussão da chegada dessas tecnologias à escola sem que o professor recebesse aperfeiçoamento para trabalhar com uma linguagem dinâmica e audiovisual. Outro ponto discutido foi a influência da televisão no cotidiano das pessoas, como ela é utilizada principalmente pelo mercado para educar para o consumo de bens e produtos e de uma falsa promessa através de recursos de maquiagem e de edição de imagem que dão aos atores o aspecto de uma aparência "perfeita" o que faz com que as pessoas  acabem até se deformando em busca de um corpo perfeito e de uma juventude eterna.

Em minha reflexão sobre a TV e Vídeo considerei que mais que a contextualização dos conteúdos curriculares com as notícias da atualidade e a leitura de filmes e desenhos animados, penso que o uso da TV na educação deve conferir aos alunos uma reflexão sobre as intenções das produções veiculadas pela TV e também lhes proporcionar autoria e produção de conteúdo e análise de suas próprias produções. Pois, com uma câmera digital simples ou usando o recurso de câmera de um celular eles podem gravar pequenos vídeos, editá-los e produzir uma programação para a web TV da escola, ou criar documentários para apresentar seus trabalhos, aprender a criar desenhos animados com temas dos projetos da escola, produzir vídeos com entrevistas com a comunidade escolar que podem ser postados no youtube ou no blog da escola (claro que com autorização dos responsáveis).

Até porque, eles já fazem isso, cada dia mais vídeos de conflitos entre alunos de escolas de diversos níveis sociais são postados na internet. É como se eles estivessem suplicando a oportunidade de produzir, de expressar-se, como se dissessem “sabemos usar câmeras, computadores e a internet e temos algo a dizer sobre nós, sobre nossas realidades e sobre a nossa escola”. Então o que falta é reconhecimento de suas capacidades e mediação, falta a escola validar esse fenômeno e parar de usar a TV para “passar vídeo” para os alunos assistirem e fazer um cartaz ou um texto sobre o que entenderam, não que a análise crítica não seja importante, mas não podemos para por aí.

Crative Commons

Segundo a pesquisa que fiz ao site Licenças Públicas Gerais, o Creative Commons é um novo modelo de gestão dos direitos autorais e conta com a adesão de mais de 40 países, e a Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro, é que coordena o projeto no Brasil
A partir da criação do Creative Commons artistas de diversas áreas, pesquisadores e autores de conteúdo diverso podem permitir alguns usos dos seus trabalhos por parte da sociedade optando por licenciar seu trabalho escolhendo alguma das licenças do Creative Commons. A proposta desse tipo de licença permite o uso e divulgação de trabalhos democratizando o acesso inclusive ao conhecimento sem ferir o direito à propriedade intelectual.
O Creative Commons surgiu devido ao direito autoral proteger qualquer obra já a partir da sua criação. Com o Creative Commons a utilização do conteúdo não depende de autorização do autor pois ele já estabeleceu os critérios para seu uso tornando a distribuição de suas criações intelectuais mais eficiente e permitindo que seja veiculado pela web.
Essa modalidade de licença serve principalmente a autores e criadores intelectuais que além de permitir a livre distribuição da sua obra na Internet, também autorizam remixar ou samplear sua obra. Como artistas como o ex-Ministro Gilberto Gil que disponibiliza suas músicas sob licença do Creative Commons.

Obs: A primeira imagem usada como banner no inicio deste post foi modificada a partir da imagem acima. 

E pra curtir um remix da música Realce, de Gilberto Gil, e também pra gente entender melhor que não é necessário que ele regrave sua criação atendendo a todos os estilos musicais, mas apenas disponibilizar sua obra para que outros possam criar a partir dela.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Seminário: Crendices e assombrações sobre o texto acadêmico-científico e o escrever no contexto da Pós-Graduação.

http://bibliofototeca.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.htmlO seminário "Crendices e assombrações sobre o texto acadêmico-científico e o escrever no contexto da Pós-Graduação", foi conduzido por Ana Maria Netto Machado - doutora em Ciências da Linguagem pela Université Paris X, Nanterre, 1996 e em Educação pela UFRGS, 2004 e atualmente professora/pesquisadora do PPGE da Universidade do Planalto Catarinense.

No inicio da apresentação a doutora Ana Maria, esclarece que o pesquisador é um trabalhador que surgiu a partir da emergência das questões sociais que começaram a incomodar governos desde a revolução francesa, que tendo a necessidade de compreender as demandas e clamor do povo, fez surgir as ciências sociais que é um ramo diferente das ciências humanas, posto que se ocupará de investigar a mobilização da sociedade. Em seguida, pontuou que esta atividade esta sendo precarizada pelo produtivismo que tem sido exigido e sugeriu a leitura do seu artigo "(Des)Fetichização do produtivismo acadêmico: Desafios para o trabalhador-pesquisador".

Também pontuou que o trabalho do pesquisador, diferente do que acontece, deveria ser convergido para escolha de temas a serem pesquisados em discussão com o território que sofrerá o impacto direto das ações que nele serão desenvolvidas e que mesmo seu discurso deve ser analisado, para se avaliar a quais interesses atende o resultado de suas pesquisas (nesse momento outros docentes citaram exemplos de atividades de mineradoras que causam impactos sobre comunidades locais, como escassez de água e que os resultados das pesquisas de impacto ambiental não apontam para esse problema ou não são acatadas).

Ainda sobre o conceito do trabalho do pesquisador, lembrou que no Brasil, ele está fortemente vinculado ao trabalho do professor, inclusive com recomendação da LDB de uma formação do professor-pesquisador, o que a seminarista considera que deve ser repensado devido às demandas do trabalho docente que tornam inviável a realização da pesquisa. E que os GTs (Grupos de Trabalho) mesmo quando possuem o mesmo objeto de pesquisa não discutem entre si porque as áreas de conhecimento são segmentadas e disciplinares. E, tomando uma metáfora, compara a AMPED (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação) a uma ilha isolada e que é preciso utilizar um barco para transpor o mar e chegar até ela.

Em seguida, voltando-se mais para o tema do seminário, considera que um dos pontos mais polêmicos em suas apresentações é a sua concepção de que não há uma implicação direta entre ler e escrever. Pois acredita que o ato de ler não é por si só garantia de que será desenvolvida uma boa escrita, mencionando que há grandes professores, com vasta leitura, mas que não produzem uma boa escrita. E considera esta uma das crendices mais difíceis de se quebrar, mas que apesar de considerar um mito entende que este serve para fomentar a leitura. No entanto, considera que se deveria também estimular a escrita diariamente e que o professor deve demonstrar genuíno interesse na escrita do aluno, indo além da correção gramatical e da formatação.

Quanto ao método científico entende que ele se converteu no estudo da forma, um estudo pragmático, inclusive com lançamento de diversas publicações que tratam exclusivamente das normas dos trabalhos científicos. E exemplificando lembra que ainda assim é possível encontrar resumo da CAPES com erros gramaticais e cita o exemplo do modelo uniforme de sumário que não diz nada, não expõem o conteúdo que será encontrado no trabalho, apenas lista os elementos que o compõe.

Fez uma critica direcionada os orientadores, que dizem que seus alunos escrevem como se estivessem escrevendo cartas aos amigos, lembrando que o texto científico iniciou-se a partir da troca de correspondência entre intelectuais como Sigmund Freud e Albert Einstein.

A professora Ana Maria finalizando sua apresentação chamou à atenção de que verdades científicas podem ser silenciadas por interesses econômicos, que laboratórios se instalam em outros países devido a diferença ou ausência de protocolos de segurança  e que juridicamente encontram meios para burlar a legislação para desenvolvimento de pesquisas que podem ter resultados perigosos para toda humanidade. E que isso só pode ser barrado se as ações dos pesquisadores se basearem na ética e na moral. E se posicionou contra o excessivo produtivismo científico sugerindo uma greve intelectual, com a não entrega dos trabalhos, como forma de protestar contra as exigências da CAPES.

Os pontos que destaquei acima foram todos interessantes e como a professora mesmo disse "não seria possível excluí-los", mas o que mais me chamou atenção no seminário foi sua consideração de que "não há uma implicação direta entre ler e escrever". Inclusive durante a discussão com o público isso foi questionado, como ela havia dito que sempre acontece, demonstrando que de fato, a relação entre ler muito para se escrever bem é encarada como uma determinante ou um fato incontestável. Para mim ficou clara a postulação da professora Ana Maria a partir da minha própria experiência com a leitura e a escrita. Considero que o meu tempo de leitura e a qualidade dela me oportunizaram um bom desempenho na escrita, pois apesar de ter sido alfabetizada pelo método silábico e do pouco acesso à livros na infância, minha leitura sempre foi contextualizada, tive acesso a diversos genêros textuais e fui letrada  porque eu lia o mundo. Tudo para mim era texto, letras de músicas, imagens mesmo abstratas, os rótulos das embalagens de produtos, cartazes comerciais, jornais velhos, revistas  em quadrinho, letreiros de lojas, livros de anatomia humana, dicionários, atlas, enciclopédia infantil e tudo mais que contivesse palavras, até que na adolescência passei a frequentar a biblioteca para as pesquisas das disciplinas curriculares e por iniciativa própria  me aproximei da literatura infanto-juvenil e dos clássicos da literatura brasileira.
Ainda assim, muitos assombros com relação à escrita me perseguem, principalmente a escrita pública, e durante a fala da professora Ana Maria sobre as crendices que perturbam a escrita, lembrei também de como nossas produções são tão privadas, a resenha é a sete chaves, os resumos são confidenciais, os projetos são secretos e nossos professores codificam a avaliação através da nota, que diz muito pouco. Pois, são raras as interações do professor com a escrita do seu aluno, questionando ou sugerindo algo mais. Mas, com a internet e suas funcionalidades que permitem a participação e a construção coletiva estou me habituando a produzir e expor a minha escrita de forma espontânea e percebo meu texto sendo guiado pela colaboração de outras pessoas a apartir de suas sugestões, críticas e questionamentos.

domingo, 3 de junho de 2012

UFBA: Professores em greve.


http://br.bing.com/images/search?q=ufba&view=detail&id=B2A614920202435B47E5C0CF1B98DD3FF2156111&first=0&FORM=IDFRIR Uma greve de professores é talvez o maior de todos os medos de um aluno de uma universidade federal. Seja para quem está ingressando ou para quem está concluindo sua graduação é angustiante interromper o curso e adiar sua formação. No entanto, esta formação a que me refiro limita-se apenas à diplomação, pois os que acompanham os debates entre os docentes, seja nas assembleias ou em rede, não deixa de estar em formação.
- Obras durante o período de aulas que inviabilizam até nossa permanência (cheiro de tinta, poeira, barulho...);
- Salvo engano no dia 21/05, uma chuvosa manhã de segunda-feira, descia uma cachoeira do teto do laboratório de informática e alagou e molhou várias máquinas;
- Funcionários insatisfeitos que prestam um péssimo serviço, principalmente na biblioteca;
- Limpeza passa longe e quem tem rinite como eu sofre com os barulhentos ventiladores empoeirados e etc.

Quem leu ou assistiu a argumentação da professora Graça Druck questionando a validade do plebiscito e se posicionando a favor da legitimidade do comando de greve, decidido em assembléia, por exemplo, deve considerar que é sem dúvida uma aula melhor do que algumas que já teve em sala de aula na mesma Universidade.

No entanto as opiniões se dividem entre os que apoiam o movimento apesar do considerável prejuízo quanto ao tempo de permanência na universidade e aqueles que querem seu diploma a qualquer preço. E na calada dos e-mails tramam junto com professores a realização de aulas presenciais em outros espaços onde as aulas estão sendo mantidas.
A estes que se sentem inclinados a questionar e furar a greve docente das universidades federais, sugiro acompanhar os debates, buscar conhecer o processo de precarização da carreira docente neste nível de ensino e os ajustes impostos aos ingressantes, que refletirão mais tarde na qualidade do ensino superior em todo país. Ah! Mais não estaremos mais na universidade quando essas mudanças acontecerem de fato. Verdade! Não seremos nós a ter aulas com professores insatisfeitos e atolados de artigos para produzir para CAPES. Nós seremos apenas aqueles que por conta das nossas necessidades individuais não fizemos nada para evitar que isso acontecesse.

Assim, o que nos cabe nesse momento além de participar das assembleias abertas e dos debates que decidirão o que é melhor para os rumos da educação superior, é continuar nossos estudos independentes lendo a bibliografia recomendada pelo programa das disciplinas, organizar os trabalhos iniciados e aguardar o fim do movimento torcendo e apoiando para que tenha bons resultados, que seja breve e não anule o semestre. Mas se nos individualizarmos jamais teremos uma verdadeira formação humana e crítica, que deveriam ser antes de qualquer diploma a nossa primeira meta como pessoas privilegiadas por estarem nesse espaço de ensino.

Hoje, 07/06/2012, debatendo no facebook com uma amiga sobre o movimento, lembramos de lutas anteriores em que os alunos se mobilizaram fortemente e hoje vemos uma apatia e um descontentamento maior com a falta de aulas do que deveria haver em comparação com a reação de indignação com as políticas para educação. E nos perguntando a causa dessa mudança de atitude, consideramos que as mudanças que surgem após essas lutas foram pouco ou não muito perceptíveis, mas que somadas a outras vitórias em outras lutas foram tecendo o modelo educacional que temos hoje e que depende de novas demandas para ir se reajustando à atualidade. Talvez essa tímida mudança seja a causa da descrença na mobilização ou será que talvez o mercado tenha conseguido nos engolir antes mesmos de chegar-mos a ele? Neste caso chamarei de visão do mercado e engolir substituo por sedução. Então, a visão do mercado conseguiu nos seduzir de tal forma que a pressa para concluir nossos cursos seja tão grande, que estamos preferindo ganhar um rótulo UFBA sem questionar a qualidade da formação UFBA. Ou ainda, conseguiram nos convencer de que estamos sempre sendo manobrados, como forma de desacreditar a mobilização para eliminá-la?

A alguns meses atrás, um colega espanhol do intercâmbio nos apresentou um vídeo da sua Universidade, Granada, ficamos mudos de constrangimento, mas conseguimos elogiar a estrutura e a produção feita por eles. Em sua resposta ele nos disse que: "Ainda temos muitos problemas para resolver, principalmente no ensino, falta uma aproximação entre professor e aluno [...], mas se chegamos até aqui é por não ter cruzado os braços e deixado de buscar algo mais só por que outros estão em situação pior que a nossa". Se fosse hoje eu lhe diria que há quem ache que está tudo bem na UFBA e se posiciona contra a greve dos professores e acha que os alunos não possuem uma pauta de reivindicação, quando é só entrar na FACED para listar uma das bem grandes.
Vídeo Universidade de Granada (clique aqui). Apesar do estilo high school musical, vale à pena ver o vídeo, quem sabe você não sente vontade de lutar para ter faculdades públicas com essa estrutura no Brasil.


Este post estará em construção durante a greve.

sábado, 26 de maio de 2012

Rádio e educação.

Apresentação

vitorfelipe.blogspot.comRádio e educação foi o tema do seminário que coube a mim,  Jailma e Pérola pesquisar para discutir com a turma na apresentação do dia 24 de setembro de 2012. Ao longo da preparação já discutimos com a turma da disciplina de EDC 287 - Educação e Tecnologias Contemporâneas 2012.1 no fórum do ambiente do moodle da UFBA e nas nossas postagens em blog.

Discutimos inicialmente a importância das rádios analógicas que veiculam programação voltada para educação pois na nossa sociedade o rádio é um aparelho bastante acessível a todos os grupos sociais. Mas, no caso de uma rádio escola é possível criar uma estrutura de transmissão local, pois uma transmissão de longo alcance demanda mais recursos, (veja mais).
Já com a junção dessa modalidade de comunicação à web é possível alcançar não só a localidade e sim o mundo inteiro, promover a interação de toda escola com a comunidade usufruindo das possibilidades que a web 2.0 oferece (chat, caixa de comentário, links, blogs e etc.) e superar a educação transmissiva alcançando uma construção coletiva do conhecimento, (web rádio).
A rádio FACED, por exemplo é uma Web Rádio, ou Rádio via Internet ou ainda uma Rádio Online. Nesse tipo de rádio o áudio é transmitido a partir do uso do serviço de streaming de áudio que gera áudio em tempo real, mas a transmissão pode ser tanto ao vivo como por programação gravada. E possui inúmeras vantagens em relação às rádios analógicas, como: alcance mundial, baixo custo e por conta do seu poder de interatividade não se limita apenas à transmissão de áudio permitindo o uso de chats (salas de bate-papo), links, quadros de mensagens e pode conter imagens, desenhos e textos.

História do Rádio e a Educação no Brasil



O rádio no Brasil já após a primeira transmissão em 07/09/1922, foi percebido como uma nova tecnologia para educação do povo por Roquette Pinto (1884/1954), que fundou a primeira rádio do país, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro - atual Rádio MEC, fundada em 1923 por ele e Henrique Morize. A programação da rádio inicialmente era voltada para a elite do país e incluía ópera, recitais de poesia, concertos e palestras culturais, tinha uma finalidade cultural e educativa e era mantida por doações de ouvintes porque os anúncios pagos eram proibidos.
Após o Decreto nº 21.111, de 1º de março de 1932 os anúncios pagos passaram a ser permitidos, o que fez com que o rádio perdesse sua característica educacional e passasse a possuir uma função mais comercial, no entanto com a competição foi gerado desenvolvimento técnico, popularidade e status às emissoras.
Em maio de 1932, a cidade de São Paulo exigia a deposição do então Presidente Getúlio Vargas, e logo foi cercada pelas forças federais, isolada, utilizou as emissoras de rádio para divulgar os acontecimentos a outras partes do país e o rádio saiu do conflito revigorado por sua destacada atuação. Alguns profissionais do setor se tornaram conhecidos em âmbito nacional e o rádio demonstrou sua capacidade de mobilização política. E por ter demonstrado ser um veículo de publicidade economicamente rentável o governo começou a distribuir concessões de canais a indivíduos e empresas privadas com a garantia de uma hora diária da programação em todo o território nacional para a transmissão do programa oficial do governo. Assim, surge a propaganda política, os programas de auditório. Mas além de inserir inovações técnicas o rádio também modificou hábitos, transformando-se na maior atração cultural do país.

Radiodifusão

É a transmissão de ondas de radiofrequência que por sua vez são moduladas, estas se propagam eletromagneticamente através do espaço [...].
Muitos costumam fazer confusão tomando radiodifusão pela transmissão de sinais somente de áudio, o que não é correto. A radiodifusão é a "propagação de sinais de rádio, televisão, telex etc., por ondas radioelétricas", ou seja, tanto aparelhos de TV e como de rádio usam radiodifusão para receber sinais e transformá-los em vídeo (no caso da TV) e áudio, vide as entradas RF (radiofrequência) dos aparelhos de TV. A diferença está em como a informação é codificada.
           
            Para GOMEZ in Tosta e Pretto ( 2010, p. 07).
Na América Latina, o rádio tem sido um meio de comunicação de massa especialmente apreciado e usado por grupos e organizações sociais para fins culturais e educativos. [...] em muitos países o rádio de fato penetrou nas sociedades como um meio de comunicação a serviço destas.
No entanto, não apenas no Brasil, como também no México, na Bolívia e na Colômbia – para citar somente três casos –, as emissoras radiofônicas educativas têm sido pioneiras na Educação a distância e na criação de modelos sociopedagógicos efetivos, muitos dos quais transcenderam o continente e inspiraram outras rádios em outras latitudes.



Características e Vantagens do Rádio
  • Acessível à população devido ao baixo custo do aparelho;
  • Baixo consumo de energia elétrica;
  • Longo alcance podendo ser utilizado nas zonas urbanas e rurais;
  • Pode ser portátil;
  • Atende à educação formal e não formal;
  • Capacidade de criar uma sensação de intimidade entre o ouvinte e o locutor;
  • Potencial de mobilização e divulgação;
  • Possibilita o desenvolvimento de estratégias criativas a partir da realidade local;
  • Possibilidade de produção, autoria.



Projetos no Brasil para educação à distância



Instituto de Radiodifusão da Bahia.
Fundação Padre Landell de Moura.
Fundação Padre Anchieta.
Rádio Cultura FM.
Centro Paulista de Rádio e Televisão Educativa/Fundação Padre Anchieta.
Projeto Minerva.

Marginalização da Radiodifusão

No artigo publicado no Ministério da Cultura, "O mito da interferência no espectro de rádio", David Weinberger critica o argumento que marginaliza a radiodifusão comunitária.
"É uma troca assimétrica que domina nossa cultura, economia e política – só o rico e famoso pode divulgar suas mensagens – e tudo baseado no fato que as ondas de rádio no seu indomado habitat interferem umas com as outras".

Rádio Pirata

Surge em 1960 para designar as transmissões de conteúdo não autorizado por navios que se encontravam fora da costa britânica. Para inibir a veiculação desse conteúdo a marinha inglesa aumentou as milhas marítimas pra possibilitar a aplicação de sanções a quem desobedecesse a lei. Com a apreensão da rádio a juventude inglesa fez surgir centenas de emissoras no território inglês. (veja mais)
No Brasil uma rádio pirata ou rádio clandestina é uma estação de radiodifusão em situação ilegal por não ter autorização de funcionamento expedida pelas autoridades governamentais competentes (Ministério das Comunicações e Anatel). As rádios-piratas são radiodifusoras cujo sinal tem alcance acima de 1000 metros e são exploradas comercialmente, além de não possuírem autorização para atingir potenciais ouvintes.

Rádio Livre

É um termo surgido na década de 1960, que significa um tipo de emissora de rádio que não encontra-se vinculado a partidos políticos, entidades religiosas, órgãos estatais ou grupos de interesses comerciais.
Nesse modelo de radiodifusão a preocupação é a expressão do conteúdo, com direito a participar do conteúdo, da identidade, da produção cultural, e no combate ao monopólio sobre o conjunto interligado desses bens.



Rádio Comunitária

Rádio Comunitária é uma emissora sonora em FM, sem fins lucrativos, com potência limitada a 25W e que é regida pela lei 9.621 de 1998. 
No entanto, contando com a facilidade de criação de uma rádio, já que são suficientes um transmissor, um aparelho de CD, uma mesa e um microfone diversas rádios comunitárias funcionam ilegalmente no Brasil, sem concessão da ANATEL. Mas, a manutenção destas rádios é fundamental num processo de democratização da informação e do país. Elas são fomentadas por movimentos de mídia independente, de criação dos próprios meios de comunicação e independência de mídias ligadas a grandes empresas.



Rádio web

Web rádio (também conhecido como Rádio via Internet ou Rádio Online) é o serviço de transmissão de áudio via Internet com a tecnologia streaming gerando áudio em tempo real, havendo possibilidade de emitir programação ao vivo ou gravada. Muitas estações tradicionais de rádio transmitem a mesma programação pelo meio convencional (transmissão analógica por ondas de rádio, limitado ao alcance do sinal) e também pela Internet, conseguindo desta forma a possibilidade de alcance global na audiência. Outras estações transmitem somente via Internet.
Para realizar a transmissão de áudio através da Internet é necessário enviar o áudio para um servidor que irá realizar a codificação apropriada (encoder) e a transmissão (broadcast) aos usuários.

Vantagens rádio Web

Alcance global;
Permite vincular outras mídias como textos e imagens;
Menor custo;
Interatividade;
Participação;
Produção de conteúdo, autoria;
Não depende de autorização legal;
Funcionamento ininterrupto.



Algumas Rádios Web - Educação




Conclusão



Como foi discutido durante o debate, apesar  do rádio ser um pioneiro na Educação à Distância não está ultrapassado e tem sido utilizado como forma de promover a interação entre professores e alunos e uma educação construtivista pois a realidade do aluno é conteúdo para seu aprendizado, além de promover o desenvolvimento da comunicação oral e escrita devido à necessidade de realizar pesquisas sobre os temas e criar roteiros da programação como entrevistas, narrações e desenvolver os temas que foram propostos. 
Desse modo, as escolas que desenvolverem em seus Projetos Políticos Pedagógicos estratégias que busquem interação com a comunidade escolar e usem o rádio como veículo de comunicação farão com que a escola possua um significado para essa comunidade e estarão preenchendo esse espaço entre a sociedade e a escola ao divulgar as suas atividades, as reuniões com pais e alunos, campanhas de vacinação, conteúdos informativos de saúde, lazer, entretenimento, serviços e conteúdo cultural desenvolvido na escola e na comunidade.



Agradecimentos

A todas as colegas que participaram do fórum de discussão do moodle e do debate e a todos que disponibilizaram seu conhecimento na Web e nos ajudaram a construir o seminário.


Referências.

BONILLA, Maria Helena Silveira . Linguagens, tecnologias e racionalidades utilizadas na escola: interfaces possíveis. In: 27ª Reunião Anual da Anped, 2004, Caxambu. Sociedade, Democracia e Educação: qual universidade?, 2004.

David Weinberger. O mito da interferência no espectro de rádio. Disponível em: http://www.cultura.gov.br/site/2003/03/30/o-mito-da-interferencia-no-espectro-de-radio-por-david-weinberger/. Acesso: 23/09/2012.

Gabriela E. Possolli Vesce. Radio escolar. Disponível em: http://www.infoescola.com/comunicacao/radio-escolar/. Acesso: 24/05/2012.

GOMEZ, Guillermo Orozco. De ouvintes a falantes da rádio, o desafio educativo com os novos radiouvintes. In: TOSTA, Sandra de Fátima e PRETTO, Nelson de Luca. Do MEB a WEB. Autêntica, Belo Horizonte, 2010.

História do Rádio em partes. Disponível em: http://www.locutor.info/Biblioteca.htm. Acesso: 22/09/2012.

Radiodifusão. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Radiodifus%C3%A3o#Educa.C3.A7.C3.A3o_a_dist.C3.A2ncia. Acesso: 23/09/2012.

Radiodifusão Clandestina. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Radiodifus%C3%A3o_clandestina. Acesso: 23/09/2012.

Rádios Comunitárias e livres. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Radiodifus%C3%A3o_clandestina. Acesso: 23/09/2012.

Rádios Comunitárias ou Piratas ?? Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=qxLVqpIPbLoAcesso: 23/09/2012.  Acesso: 23/09/2012.

Rádio Escola – Programa da 4ª Série E. Disponível em: http://www.escolabonilha.com/2008/radio-escola_4e/. Acesso: 23/09/2012.

Rádio Escolar. Disponível em: http://www.infoescola.com/comunicacao/radio-escolar/. Acesso: 20/05/2012.

Rádio Pirata. Disponível em: http://www.aranasfm.com/artigos/radio-pirata.html. Acesso: 22/09/2012.

Web rádio na escola. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=_yVVhArVo_4. Acesso em: 22/09/2012.