segunda-feira, 11 de junho de 2012

Seminário: Crendices e assombrações sobre o texto acadêmico-científico e o escrever no contexto da Pós-Graduação.

http://bibliofototeca.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.htmlO seminário "Crendices e assombrações sobre o texto acadêmico-científico e o escrever no contexto da Pós-Graduação", foi conduzido por Ana Maria Netto Machado - doutora em Ciências da Linguagem pela Université Paris X, Nanterre, 1996 e em Educação pela UFRGS, 2004 e atualmente professora/pesquisadora do PPGE da Universidade do Planalto Catarinense.

No inicio da apresentação a doutora Ana Maria, esclarece que o pesquisador é um trabalhador que surgiu a partir da emergência das questões sociais que começaram a incomodar governos desde a revolução francesa, que tendo a necessidade de compreender as demandas e clamor do povo, fez surgir as ciências sociais que é um ramo diferente das ciências humanas, posto que se ocupará de investigar a mobilização da sociedade. Em seguida, pontuou que esta atividade esta sendo precarizada pelo produtivismo que tem sido exigido e sugeriu a leitura do seu artigo "(Des)Fetichização do produtivismo acadêmico: Desafios para o trabalhador-pesquisador".

Também pontuou que o trabalho do pesquisador, diferente do que acontece, deveria ser convergido para escolha de temas a serem pesquisados em discussão com o território que sofrerá o impacto direto das ações que nele serão desenvolvidas e que mesmo seu discurso deve ser analisado, para se avaliar a quais interesses atende o resultado de suas pesquisas (nesse momento outros docentes citaram exemplos de atividades de mineradoras que causam impactos sobre comunidades locais, como escassez de água e que os resultados das pesquisas de impacto ambiental não apontam para esse problema ou não são acatadas).

Ainda sobre o conceito do trabalho do pesquisador, lembrou que no Brasil, ele está fortemente vinculado ao trabalho do professor, inclusive com recomendação da LDB de uma formação do professor-pesquisador, o que a seminarista considera que deve ser repensado devido às demandas do trabalho docente que tornam inviável a realização da pesquisa. E que os GTs (Grupos de Trabalho) mesmo quando possuem o mesmo objeto de pesquisa não discutem entre si porque as áreas de conhecimento são segmentadas e disciplinares. E, tomando uma metáfora, compara a AMPED (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação) a uma ilha isolada e que é preciso utilizar um barco para transpor o mar e chegar até ela.

Em seguida, voltando-se mais para o tema do seminário, considera que um dos pontos mais polêmicos em suas apresentações é a sua concepção de que não há uma implicação direta entre ler e escrever. Pois acredita que o ato de ler não é por si só garantia de que será desenvolvida uma boa escrita, mencionando que há grandes professores, com vasta leitura, mas que não produzem uma boa escrita. E considera esta uma das crendices mais difíceis de se quebrar, mas que apesar de considerar um mito entende que este serve para fomentar a leitura. No entanto, considera que se deveria também estimular a escrita diariamente e que o professor deve demonstrar genuíno interesse na escrita do aluno, indo além da correção gramatical e da formatação.

Quanto ao método científico entende que ele se converteu no estudo da forma, um estudo pragmático, inclusive com lançamento de diversas publicações que tratam exclusivamente das normas dos trabalhos científicos. E exemplificando lembra que ainda assim é possível encontrar resumo da CAPES com erros gramaticais e cita o exemplo do modelo uniforme de sumário que não diz nada, não expõem o conteúdo que será encontrado no trabalho, apenas lista os elementos que o compõe.

Fez uma critica direcionada os orientadores, que dizem que seus alunos escrevem como se estivessem escrevendo cartas aos amigos, lembrando que o texto científico iniciou-se a partir da troca de correspondência entre intelectuais como Sigmund Freud e Albert Einstein.

A professora Ana Maria finalizando sua apresentação chamou à atenção de que verdades científicas podem ser silenciadas por interesses econômicos, que laboratórios se instalam em outros países devido a diferença ou ausência de protocolos de segurança  e que juridicamente encontram meios para burlar a legislação para desenvolvimento de pesquisas que podem ter resultados perigosos para toda humanidade. E que isso só pode ser barrado se as ações dos pesquisadores se basearem na ética e na moral. E se posicionou contra o excessivo produtivismo científico sugerindo uma greve intelectual, com a não entrega dos trabalhos, como forma de protestar contra as exigências da CAPES.

Os pontos que destaquei acima foram todos interessantes e como a professora mesmo disse "não seria possível excluí-los", mas o que mais me chamou atenção no seminário foi sua consideração de que "não há uma implicação direta entre ler e escrever". Inclusive durante a discussão com o público isso foi questionado, como ela havia dito que sempre acontece, demonstrando que de fato, a relação entre ler muito para se escrever bem é encarada como uma determinante ou um fato incontestável. Para mim ficou clara a postulação da professora Ana Maria a partir da minha própria experiência com a leitura e a escrita. Considero que o meu tempo de leitura e a qualidade dela me oportunizaram um bom desempenho na escrita, pois apesar de ter sido alfabetizada pelo método silábico e do pouco acesso à livros na infância, minha leitura sempre foi contextualizada, tive acesso a diversos genêros textuais e fui letrada  porque eu lia o mundo. Tudo para mim era texto, letras de músicas, imagens mesmo abstratas, os rótulos das embalagens de produtos, cartazes comerciais, jornais velhos, revistas  em quadrinho, letreiros de lojas, livros de anatomia humana, dicionários, atlas, enciclopédia infantil e tudo mais que contivesse palavras, até que na adolescência passei a frequentar a biblioteca para as pesquisas das disciplinas curriculares e por iniciativa própria  me aproximei da literatura infanto-juvenil e dos clássicos da literatura brasileira.
Ainda assim, muitos assombros com relação à escrita me perseguem, principalmente a escrita pública, e durante a fala da professora Ana Maria sobre as crendices que perturbam a escrita, lembrei também de como nossas produções são tão privadas, a resenha é a sete chaves, os resumos são confidenciais, os projetos são secretos e nossos professores codificam a avaliação através da nota, que diz muito pouco. Pois, são raras as interações do professor com a escrita do seu aluno, questionando ou sugerindo algo mais. Mas, com a internet e suas funcionalidades que permitem a participação e a construção coletiva estou me habituando a produzir e expor a minha escrita de forma espontânea e percebo meu texto sendo guiado pela colaboração de outras pessoas a apartir de suas sugestões, críticas e questionamentos.

4 comentários:

Ana Cristina disse...

Gostei muito da sua reflexão colega!
Muito construtivo.

Alessandra Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alessandra Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alessandra Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.